Carlos Ramos continua sem poder falar sobre Serena Williams

Por José Morgado - Abril 12, 2023
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O português Carlos Ramos, que encerrou a carreira de árbitro de cadeira depois de arbitrar a final do Millennium Estoril Open 2023, assumiu esta quarta-feira que este é o “momento ideal” para concluir um ciclo de 30 anos, prosseguindo em funções na juiz-arbitragem. Pelo facto de se ir manter ligado à modalidade e à arbitragem, Ramos assegurou que ainda não pode abordar o tema mais mediático da sua carreira, o caso Serena Williams.

PORQUÊ SAIR AGORA?

Não tinha previsto deixar no Estoril Open, era em Roland Garros, mas a cada dia que passava, ficava mais claro que era ali o momento para parar. Fez sentido, era fechar o ciclo. Comecei aqui no Jamor, a minha primeira final ATP foi no Jamor, acabo no Estoril e o meu último jogo é no meu país, onde nasci e acabei como árbitro. Era o momento ideal para o fazer e estou felicíssimo por ter tomado esta decisão.

TEM PERDIDO ALGUMAS FACULDADES

Era fundamental deixar enquanto estivesse a arbitrar ao nível de que gosto. Aos 52 anos, as coisas tornam-se mais frágeis. Com a idade e maturidade ganhamos algumas coisas, mas perdemos outras. Este foi o primeiro ano em que arbitrei o Estoril Open de óculos. É o reflexo das capacidades que começam a baixar, como a visão. Sentia-me com plena confiança e a ver a bola da mesma forma que antes, mas senti que é o momento certo. Estava a correr mais riscos de arbitrar a um nível que não me satisfaz e preferia decidir antes que me fosse imposto.

VAI CONTINUAR COMO JUIZ ÁRBITRO

O meu presente hoje é a arbitragem de cadeira, mas vou continuar como juiz-árbitro. A parte da juiz-arbitragem tem algo de que não gosto muito, que é a parte administrativa. Sou uma pessoa mais de terreno e a parte administrativa é muito pesada, identifico-me muito pouco. Consegui, como árbitro de cadeira, tornar as minhas fraquezas um pouco nas minhas qualidades. Dedicando-me a fundo à juiz-arbitragem, acredito que consigo fazer a mesma coisa. Era fraco na gestão de emoções, na concentração e comunicação, que foram das minhas três melhores qualidades como árbitro de cadeira.

NÃO PODE FALAR SOBRE SERENA WILLIAMS

O jogo alimentou muita polémica. Ainda sou árbitro e não tenho o direito a falar sobre ele. Não é que não queira, pois não tinha o mínimo problema em falar, mas o código de conduta da ITF [Federação Internacional de Ténis], infelizmente, não me permite falar sobre um jogador, um evento ou um jogo em específico.

ELOGIOS AO ÍDOLO JORGE DIAS

Foi a primeira pessoa que me fez sonhar em ser árbitro. Sempre quis ser desportista, era louco por futebol, jogava a guarda-redes, só que era demasiado pequeno. Vi que não ia chegar a lado nenhum, conheci o ténis e entusiasmei-me rapidamente. Comecei tarde, não tinha o talento que queria e rapidamente também vi que não havia grande esperança. Comecei depois como juiz de linha e, quando entrei em campo no primeiro jogo, adorei. O resto é história

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 13 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: josemorgado@bolamarela.pt