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Brasileiro fora do top 800 fala sobre impressões em peculiar Challenger no Congo
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Paulo Saraiva, atual 818º da ATP em simples e 230º de duplas aos 24 anos, está no Congo para a disputa do Challenger de Brazzaville, que tem uma chave bem mais aberta do que torneios deste nível por falta de interesse de jogadores de viajar até a região central da África.
Por conta disso, mesmo fora do top 800, o brasiliense está garantido na chave principal com entrada direta. O torneio teve apenas um jogo de qualifying — vencido por Dillon Beckles, norte-americano de 18 anos e sem ranking, que será justamente o rival de Paulo na estreia — e um raro bye de primeira rodada, para o cabeça de chave 1 Calvin Hemery, único tenista do top 200 na disputa. Outro brasileiro também optou por fazer esta viagem, Mateo Reyes, atual 637º da ATP, que joga duplas ao lado de Paulo.
Paulo conta que tinha a opção de jogar os Future M25 em Punta del Este, torneios que dão menos pontos e tinham uma chave mais forte. “Sou 800 do mundo e não estaria na chave principal. Assim teria que fazer dois ou três jogos de qualifying que não valeriam pontos. E Punta del Este é muito caro… comida, hospedagem, transporte, tudo. Assim, eu estudei um pouco para saber quanto me custaria vir aqui e ter a chance de jogar um Challenger e não precisar jogar quali de M25. A passagem é muito cara. Mas, como tem hotel, ajuda demais. Fora que a estrutura de um torneio organizado pela ATP te ajuda muito mais“, explica Paulo. Em torneios Future, os jogadores precisam custear a acomodação.
“Ter hotel, transporte, água, bolas novas todos os dias, quadras para treinar… ajuda muito na evolução e conforto. Por esses motivos, pontos e custos, decidi vir para esse torneio“, completa. Paulo conta que é a sua primeira vez nessa região da África — ele já havia jogado no norte do continente, em Marrocos e na Tunísia.
Na visão de Paulo, jogadores optam por outras opções ao invés de torneios nesta região por conta do preço das passagens, no caso dos sul-americanos, enquanto os europeus têm muito mais opções de torneios. “Ainda assim, também acho que podem pensar que seja perigoso ou algo do tipo. Mas tenho passado de maneira bem boa aqui. Não saí, não fiz muita coisa por estar muito focado na rotina“, conta.
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Quadra central em Brazzaville, no Congo
Logística difícil
A viagem de Paulo até o Congo foi dura e longa. Ele deixou o Brasil na última segunda-feira (10), por volta de 14h, saindo de Brasília para Congonhas. Depois, foi até Guarulhos, de onde partiu para Casablanca, no Marrocos, onde ficou mais de um dia aguardando conexão.
“Acabei pegando um hotel e busquei um jogador para treinar nesse tempo de conexão que eu tinha. Assim, consegui ir me adaptando ao fuso horário. Depois cheguei aqui de madrugada, e na imigração fiquei um pouco nervoso por conta do visto. Retiveram meu passaporte e disseram que no próximo dia chegaria no meu hotel, com o pessoal do torneio. Fiquei dois dias sem meu passaporte, nervoso, pensando no pior. Mas no fim, o pessoal do torneio recebeu o documento, com o visto, tudo certinho“, disse, aliviado.
Ele fez a viagem sozinho. Paulo conta que, por questões financeiras, não consegue viajar com uma equipe. “Minha mãe é empregada doméstica e não ganha praticamente nada no Brasil… Trazer um treinador nessa altura do campeonato é impossível para mim. Mas estou lutando para que isso seja possível“, conta.
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O plano de Paulo é, nas próximas semanas, também jogar dois torneios Challenger em Kigali, na Ruanda, um de categoria 75 e outro 100, apesar de estar com dificuldades logísticas. “As passagens estão muito caras e a logística muito difícil para chegar. Acredito que deveria haver algum voo de Kinshasa até Kigali, mas por conta dos conflitos entre os países… isso não está acontecendo. Deixei meu nome em um 15K também, mas a prioridade é ir aos dois Challengers e ver se consigo entrar“.
Estrutura em Brazzaville
Segundo Paulo, as quadras de treino no clube onde o torneio acontece, em Brazzaville, e também as condições proporcionadas aos jogadores estão no nível de torneios Challenger em outras partes do mundo.
“O clube tem, se não me engano, seis quadras. Na quinta-feira, no meu primeiro dia de treino, a Central e as quadras 1, 2, 3 e 4 estavam sendo feitas. Acredito que do zero… Eles têm feito todo o possível para nos manter confortáveis. O hotel é muito bom, mas as comidas são bem caras. Podemos solicitar transporte do hotel para o clube a praticamente todos os momentos e eles vêm nos buscar. Temos uma sala de jogadores para ficarmos ali no torneio enquanto não estamos jogando. Área de aquecimento e tudo mais. Então diria que, sim, tem uma boa estrutura para esse tipo de torneio. A quadra central é bem bonita e aparentemente as quadras estão boas para jogar. Eu realmente achava que seria muito abaixo de qualquer outro Challenger ou até de torneios Futures. Mas, com tudo que temos aqui, quadras, bolas novas, toalhas, um estafe com muita vontade de deixar os jogadores à vontade… digo que tem tudo para ser uma boa semana“.
Conflitos na região
Vizinha do Congo, a República Democrática do Congo (RDC) vive um momento conturbado politicamente, principalmente nas regiões de Kivu do Norte e Kivu do Sul, que ficam longe da fronteira com o Congo, no lado leste do país, próximo a países como Ruanda, Uganda e Burundi.
De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (Acnur), desde o início de 2025, mais de 400 mil pessoas foram deslocadas internamente devido ao aumento dos conflitos armados no leste da RDC. O país sofre há décadas com violência devido a atuação de milícias, incluindo o M23, que diz “defender os interesses de comunidades minoritárias, incluindo os tutsis”. Desde 2022, eles intensificaram a rebelião diante do governo da RDC.
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