Andy, só uma coisa: muito obrigado!

Por José Morgado - Janeiro 11, 2019

Fica difícil ouvir as palavras de Andy Murray esta sexta-feira, quando anunciou que se vai retirar em breve dos courts, sem pensar que estamos perante o início do fim de uma Era que nos marcou a todos. O denominado ‘Big Four’ vai deixar de o ser em breve e o primeiro a atirar a toalha ao chão é talvez o mais improvável de todos. Não é o mais velho, não é aquele que teve mais lesões nem sequer é aquele que passou por uma crise pessoal e de motivação que o atirou para fora do seu melhor nível.

Andy Murray é mais uma das provas humanas de que é possível ser incrivelmente bom com muito trabalho. O talento sempre esteve lá, desde muito jovem, mas foi a sua inegável capacidade de trabalho, de foco e a dimensão física que foi capaz de dar ao seu ténis que fez do escocês um tenista de exceção.

E depois há outra coisa de valor difícil de calcular: Murray ganhou tudo o que ganhou ao serviço de uma nação de tremenda tradição desportiva (e tenística) mas que não tinha um jogador desde nível há décadas. Durante anos, Murray carregou nos ombros a responsabilidade de quebrar barreiras que os jogadores do Reino Unido não atingiam desde os anos 30 e 40 do século… XX.

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Mas nunca nenhum fardo pareceu demasiado pesado para o tenista Dumblane: nem o jejum britânico em Wimbledon, nem os anos do ‘quase’ de Tim Henman, nem as décadas sem ganhar a Taça Davis, nem mesmo — e acima de tudo — a qualidade dos seus principais rivais — Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, que juntos somam 51 títulos do Grand Slam. Murray nunca se queixou, preferiu aproveitar a qualidade dos rivais para se tornar melhor jogador. E conseguiu. Os números falam por si.

Mas Murray é muito mais do que isso. Despede-se como uma das figuras absolutamente unânimes do ténis mundial. Para os colegas, que se apressaram a elogiá-lo nas horas após o anúncio, para os jornalistas e, muito especificamente, para as jogadoras do circuito feminino, que sempre defendeu. Andy sai de cena como um dos maiores defensores da igualdade de direito e tratamento entre homens e mulheres na modalidade. A contratação de Amélie Mauresmo para a sua técnica já numa fase de maturação da sua carreira foi um ‘statement’ importantíssimo nesse caminho…

Andy Murray vai levar consigo a inteligência de cada troca de bolas, a delicadeza de cada amorti, a astúcia de cada passing shot, o cerrar de dentes de cada ‘come on’. Vai fazer tanta, tanta falta. O ténis vai sobreviver sem ele, mas fica indubitavelmente mais pobre.

Obrigado, Andy.

AUTOR: JOSÉ MORGADO

Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com