Do Vietname à elite mundial: a história familiar que moldou Learner Tien

Por José Morgado - Dezembro 29, 2025

Por detrás da ascensão meteórica de Learner Tien no circuito ATP está uma história de sacrifício, resiliência e gratidão. O jovem norte-americano, vencedor das ATP Next Gen Finals, campeão do ATP 250 de Metz e número 28 do ranking mundial no final de 2025, é hoje uma das grandes promessas do ténis mundial. Mas o seu sucesso não se explica apenas pelo talento: começa muito antes, na vida dos seus pais.

Num documentário divulgado pelo Tennis Channel, Khuong e Huyen Tien recordam o percurso dramático que os levou a abandonar o Vietname em plena guerra e a reconstruir a vida nos Estados Unidos. “Fomos mais sortudos do que a maioria, porque simplesmente apanhámos um avião e aterramos nos EUA”, contou Khuong. Bem diferente foi a experiência de Huyen: “Eu cheguei de barco. Foram dez dias no mar, encontrámos piratas e vimos pessoas morrer. Foi muito duro.”

Instalados em Irvine, na Califórnia, o ténis acabou por uni-los. “Trabalhava como professor de ténis e foi numa pista que conheci a Huyen. É por isso que os nossos filhos jogam ténis”, explicou Khuong. Não surpreende, assim, que Learner tenha crescido com uma raqueta na mão. “Sempre foi algo normal para mim. Nunca pensei logo em ser profissional, queria apenas ver até onde conseguia chegar”, admitiu o próprio.

Durante os primeiros anos, foram os pais quem orientou a sua formação. “O melhor treinador de um filho é quem passa a noite a pensar nele”, justificou Khuong, sublinhando o cuidado em ensinar sem criar rejeição. Mesmo quando os resultados surgiram, Learner manteve os pés assentes no chão. “A resposta dele era sempre: ‘vamos ver até onde chego’”, recordou o pai.

O talento cedo chamou a atenção. Jay Leavitt, treinador que o acompanhou na transição, não hesita na comparação: “O jogo do Learner é especial, lembra o Federer, pela elegância natural.” Hoje, Tien desfruta do momento, sem perder a ambição. “Gosto de olhar para trás e ver o caminho. O sonho continua a ser ganhar Grand Slams e ser número um.”

Para os pais, o orgulho é imenso. “Nunca voltámos ao Vietname, mas queremos lá ir um dia, para que os nossos filhos vejam de onde vimos e o que tivemos de ultrapassar”, concluiu Khuong. Uma história de superação que explica muito mais do que um ranking.

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Apaixonei-me pelo ténis na épica final de Roland Garros 2001 entre Jennifer Capriati e a Kim Clijsters e nunca mais larguei uma modalidade que sempre me pareceu muito especial. O amor pelo jornalismo e pelo ténis foram crescendo lado a lado. Entrei para o Bola Amarela em 2008, ainda antes de ir para a faculdade, e o site nunca mais saiu da minha vida. Trabalhei no Record e desde 2018 pode também ouvir-me a comentar tudo sobre a bolinha amarela na Sport TV. Já tive a honra de fazer a cobertura 'in loco' de três dos quatro Grand Slams (só me falta a Austrália!), do ATP Masters 1000 de Madrid, das Davis Cup Finals, muitas eliminatórias portuguesas na competição e, claro, de 16 (!) edições do Estoril Open. Estou a ficar velho... Email: jose_guerra_morgado@hotmail.com