Andrés Santamarta escolhe o percurso universitário: «Se não desfrutas, este desporto torna-se muito duro»

Por Rodrigo Caldeira - Dezembro 23, 2025

A vida de Andrés Santamarta vai dar uma volta radical nas próximas semanas. O tenista valenciano, que há poucos meses foi o melhor júnior do mundo, tomou uma decisão que muda tudo: apostar no percurso universitário.

A decisão, naturalmente, não foi tomada de forma impulsiva, embora tenha surgido na sequência do desfecho de uma temporada demasiado longa, repleta de bons momentos, mas também de fases difíceis de suportar para um jovem de 18 anos.

O valenciano não esconde o receio que sente depois de ter mudado de rota no GPS, mas as malas para se instalar na Virgínia a partir de 2026 já estão prontas. Aí dará continuidade à sua aventura, podendo conciliar os estudos com a prática do ténis.

BALANÇO DE 2025

“Foi um ano bastante longo, cheio de momentos em que me senti muito confortável em campo, sobretudo nos primeiros meses. Depois do verão tive alguns problemas mentais que não me permitiram competir e treinar a 100%, mas, no geral, a temporada é positiva. Fiz 18 anos, foi um calendário de aprendizagem, ainda há muitas coisas por trabalhar.”

DESAFIOS MENTAIS 

“Talvez tenha exagerado um pouco, mas também não sei bem como lhes chamar. Em alguns torneios senti falta de paciência, talvez devido à pressão que coloquei sobre mim próprio, à pressão exterior, dos meus amigos, da minha família, da minha equipa, etc. A questão é que tinha muito pouca paciência e não conseguia competir a 100%. Sem essa concentração é impossível fazer bem as coisas. Não me aguentava nem a mim próprio.”

CAUSA DESSES DESAFIOS 

“Pode ter sido devido ao excesso de torneios, praticamente não parei. No verão estive um par de dias sem pegar na raqueta, mas não parei o suficiente para descansar a cabeça e encontrar motivação para os torneios seguintes.”

PRIMEIRA TEMPORADA COMO PROFISSIONAL 

“Estou satisfeito. Joguei partidas a nível Challenger que me deram muita confiança. Em muitos dias senti-me a um bom nível, a competir contra adversários com ranking muito superior e mais experiência do que eu. Esses aspetos contam muito neste desporto, mas houve ocasiões em que não me senti inferior e até consegui ganhar alguns jogos. Depois, na segunda parte da temporada, sei que podia ter feito melhor; precisava de alguma semana de desconexão, mas prefiro ficar com o lado positivo.”

EXPECTATIVAS QUE TINHA NA TEMPORADA 

“A minha mentalidade mudou completamente no final do ano passado, quando fui sparring às Finais da Taça Davis com a Espanha; isso marcou-me muito. Depois ganhei esses dois torneios de juniores e a minha forma de ver as coisas mudou. Sentia-me com mais confiança ao começar 2025, embora ainda estivesse em choque por ter terminado entre os dez melhores juniores do mundo. Não estava à espera disso, mas foi o que me deu a oportunidade de jogar oito torneios Challenger esta temporada. Não fui com grandes expectativas, ia simplesmente para onde a minha equipa me dizia, e até correu bastante bem. Essa falta de expectativas tirou-me pressão, mas depois joguei mais dois eventos de juniores e correu-me muito bem; foi aí que comecei a colocar demasiada pressão em mim, a partir do verão. Comecei a fazer as coisas mal fora do campo, mas é um problema meu que podia ter evitado, um problema que não me deixou competir como eu queria.”

NÃO TER GANHO UM GRAND SLAM JÚNIOR 

“Fui a Roland Garros com muitas expectativas, admito, mas o facto de não ter corrido bem acabou por me ajudar. Claro que teria ganho muita confiança se tivesse sido campeão, mas também não foi nenhum drama para mim. Nos torneios de juniores, o mais importante é ganhar rodagem e confiança para depois estar preparado para dar o salto. Se me ficou essa espinha? Sim, um pouco, não te vou mentir. Gostava de ter feito algo mais.”

SER NÚMERO 1 MUNDIAL 

“Nunca quis dar demasiada importância a esse tema, mas, de forma inconsciente, acaba sempre por chegar até ti. Acaba por te afetar. É bonito ser número 1 do mundo júnior, claro, mas nunca lhe dei grande importância.”

ENVERDAR PELO CIRCUITO UNIVERSITÁRIO

“Antes de Roland Garros analisámos as opções. Várias universidades contactaram-me, mas eu tinha as ideias muito claras. Com o tempo fui mudando de opinião e pensei que podia ser algo positivo para mim; no final, aqui em Valência é sempre a mesma rotina. O meu plano é ir durante cinco meses e depois regressar no verão para ver como respondo nos torneios, como me sinto em termos de confiança.”

Apaixonado por desporto no geral, o ténis teve sempre presente no topo da hierarquia. Mas foi precisamente depois de assistir à épica meia-final de Wimbledon em 2019 entre Roger Federer e Rafael Nadal, que me apaixonei e comecei a acompanhar de perto este fabuloso desporto. Atualmente a estudar Ciências da Comunicação na Universidade Autónoma de Lisboa.