10 razões para termos saudades de Lleyton Hewitt

Por admin - Janeiro 22, 2016

O puto reguila que em 2001 deixou de queixo caído a comunidade tenística ao desafiar desrespeitosa e destemidamente o todo poderoso Pete Sampras em pleno Arthur Ashe Stadium, para conquistar o primeiro de dois título do Grand Slam, disputou esta quinta-feira o seu último encontro de sempre no circuito profissional (em singulares)*.

Mais uma vez: Lleyton Hewitt deixou definitivamente os courts para trás. Palavras que passam ao lado de muitos simpatizantes da modalidade sem sequer fazerem vento, mas para os que por cá já vagueavam antes de Roger Federer chegar e enfeitiçar por completo o circuito terão mais ou menos o peso de uma raquete a ser estatelada no chão.

É que o ténis pode até ter deixado de girar à sua volta há tanto tempo quanto ele deixou de gritar sonoros c’mons na direção dos adversários mas, admitamos, não voltar a esbarrar com o seu nome na ordem de encontros dos torneios ou saber que não volta a ocupar um lugar no ranking, por mais recôndito que seja, é capaz de abalar o mais imperturbável dos adeptos vintage (chamemos-lhes assim).

Quase a completar 35 anos, e depois de dois títulos do Grand Slam conquistados, 80 semanas na liderança do ranking e 30 títulos ATP arrecadados, Hewitt diz adeus ao circuito do qual fez parte durante praticamente duas décadas e que, à sua maneira, ajudou a mudar. Quem vai ter saudades de Lleyton Hewitt? Todos em coro: EU!

As razões, essas, são de peso:

1. O desrespeito pelos melhores de sempre

Hewitt apareceu por cá numa altura em que dois dos maiores nomes da história da modalidade faziam do circuito a sua casa – Andre Agassi e Pete Sampras. Com borbulhas na cara e cabelo a espreitar por baixo do boné, o miúdo australiano entrou sem pedir licença nos aposentos da realeza do ténis e partiu a loiça toda.

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Em 2001, com 20 anos, despachou Pete Sampras em três partidas na final do US Open: “o Pete serviu ridiculamente bem até à final e lembro-me de me sentar aqui [na conferência de imprensa] e todos me dizerem ‘não vais conseguir vencê-lo, não vais conseguir quebrar-lhe o serviço’. Quebrei-o no primeiro jogo… […] Senti-me invencível, como se não fosse perder nenhuma bola”.


2. Os passings shots

Pancadas precisas, cobertura perfeita do court, exímio defensor, atitude feroz e os incríveis passing shots de esquerda. Pancada com a qual consumou o seu primeiro Major [2:50].

https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?list=PLvII2wyl-54zs6X8uJMxdp4iHOoWoHGQT&v=3bcOm116RhA

“Ele era aquele jogador que não falhava […] Podias atacá-lo mas ele ia fazer um passing shot. Ele conseguia fazer isso vezes e vezes sem conta. Era, simplesmente, fascinante de ver” [Roger Federer].


3. O fim do boné virado para trás

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Nick Kyrgios vai abanando o universo (politicamente correto) das raquetes com os seus arrojados comentários e atrevidos comportamentos, mas esse papel de puto reguila já foi desempenhado pelo agora pacato e velho australiano. De uma forma mais branda, diga-se. O boné virado para trás aliado à atitude insolente com que encarava os seus adversários, recusando-se a encolher-se perante os teóricos favoritos, permitiu-lhe dominar o circuito antes da era Federer.


4. C’mons to everyone

Guardar os festejos apenas para aqueles pontos com elevados níveis de espetacularidade e disputados em momentos decisivos do encontro? Not really! Com Hewitt, era quando bem lhe dava na real gana, que é mais ou menos o mesmo que dizer: sempre. E não era apenas a forma aguerrida como festejava os triunfos, era também a forma temperamental como contestava os erros. As queixas dos adversários acumulavam-se mas ele seguia alegre e contente.


“Não sou o tipo de pessoa que precisa de ler livros de motivação”


 

5. O romance com Kim Clijsters

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Ela teve a lata de lhe pedir um autógrafo durante o Open da Austrália de 2000, ele o bom senso de lhe mostrar que muito mais havia para lá de toda aquela antipatia largada no court. E pronto, o resto já nós sabemos. Kim e Lleyton tornaram-se, em pouco tempo, no casal maravilha do ténis. O casamento chegou a estar nos planos, com a notícia do noivado a chegar no Natal de 2003, mas em vez disso seguiu-se o fim da relação. Continua a ser uma das histórias bonitas do ténis.

“Gosto ver a Kim jogar, mas seria incapaz de ver qualquer outro encontro feminino” [Hewitt]

“As pessoas não compreendem o seu comportamento no court, que é de quem adora a competição” [Clijsters]


6. Aquele recorde que nos relembra de que ele foi mesmo bom

Ele vai, mas os recordes ficam. E há um de peso que não pode nem deve ser esquecido. A saber: Hewitt foi o jogador mais novo de sempre a sentar-se no trono do ranking mundial. Aos 20 anos e oito meses destronou o recorde de Marat Safin, que alcançou o primeiro lugar da classificação com 20 anos e nove meses. Mais: o antigo número um mundial venceu o seu primeiro título ATP com 16 anos e dez meses(!).


7. A despedida não de um, mas de dois Hewitt

Deixarmos de ter Lleyton Hewitt a entrar-nos pelo campo de visão é mau, não ter Cruz Hewitt a seguir-lhe religiosamente os passos com uma raquete que vai já manobrando com uma destreza impressionante é mau a dobrar. Serve-nos de consolo saber que está em boas mãos e que herdou do pai a paixão por estar em court, seja a treinar afincadamente ou a trocar bolas com os melhores:

https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=aqD4sYmxcwo


8. Mal ou bem, todos falam sobre si

Pete Sampras – O Lleyton é incrível, tão rápido… Aquelas pernas, como eu gostaria de ter aquelas pernas.

Alex Corretja – Não respeita ninguém, chega a parecer provocador, irritante puto reguila.

Andre Agassi – Para mim, não é uma questão de idade mas de ténis. Quando jogo com alguém não me preocupo com a sua idade, a menos que tenha de pedir cerveja por ele

Guilermo Coria – O Lleyton festeja os erros dos adversários e é muito agressivo. É muito difícil não te sentires provocado. Preferia não ganhar um único torneio do que ser como ele.

Roger Federer – Penso que ele mudou as coisas por aqui e mostrou-me como fazer. Ele fez-me treinar mais afincadamente, ficar mais ativo no court, jogar de forma aguerrida mas justa.

Foi um grande desafio na minha carreira. O facto de ser tão forte física e mentalmente com aquela idade foi, para mim, algo impossível de perceber.

Rafael Nadal: Sempre foste uma grande inspiração para o meu ténis e para a minha mentalidade. Muito obrigado por tudo o que fizeste pelo nosso desporto e, em especial, obrigado pela tua paixão em court.


9. Acaba-se o fazer de conta

https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.youtube.com/watch?v=gjnnpEBJd4Y

Ficarmos sem Hewitt no circuito é termos mais uma razão para nos lembrarmos que, sim, estamos a ficar velhos e que, não, a mais cintilante e competitiva era de sempre do ténis não vai durar para sempre. Primeiro Roddick, agora Hewitt. Seguem-se Federer, Nadal e Djokovic (estava a assobiar para o lado, não estava?).


10. Longe da vista, longe dos ouvidos

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Vamos deixar de ter Hewitt no court, no quadro principal dos torneios, na ordem de encontros, na ordem de treinos, nos cartazes de promoção dos eventos e… nas conferências de imprensa. As boas notícias? Há sempre forma de relembrarmos o que ele foi dizendo carreira fora.

  • Quando era miúdo e vivia em Adelaide sonhava em tornar-me número um, em vencer um Grand Slam e a Taça Davis pela Austrália.

Eu gostava do Pat Cash, mas adorava o Mats Wilander. Ia ao Open da Austrália com os meus pais e costumava ver o Wilander a ser apoiado pelos fãs suecos e com o seu estilo parecido com o meu. Fazia algumas comparações.

  • Muitas vezes, os encontros ganham-se e perdem-se nos balneários.

Quando vou para o court continuo a acreditar que sou tão bom como qualquer outro. Não tenho de provar nada a ninguém, sei o que fiz e o que ainda posso fazer.

  • O meu personagem no jogos de vídeo é mais bem-parecido do que eu, na verdade. Ele não tem de se preocupar com o facto de ficar despenteado.

Muito trabalho duro, dedicação e sacrifícios, mas o ténis deu-me esta vida maravilhosa. É o melhor de tudo.

  • O Nadal é o jogador maior lutador com quem joguei em toda a minha carreira. A forma como ele o faz é fantástica. É um dos jogadores que mais gosto de ver jogar.

Vou sentir a falta de jogar com Roger [Federer] apenas pelo bom jogador que é, por tudo o que ele consegue fazer dentro do court, é incomparável.

  • Estou muito feliz por ter tido esta oportunidade pela 20.ª vez. Tive tanto sucesso neste court, sinto-me muito afortunado por terminar aqui [na Rod Laver Arena]. É o lugar perfeito para terminar.
*Lleyton Hewitt encontra-se ainda a disputar o quadro de pares do Australian Open. Discute este sábado o acesso à terceira ronda, ao lado do compatriota Sam Groth.