O gigante de quem todos fogem na hora de treinar

Por admin - Fevereiro 10, 2017

É grande mas não faz mal a uma mosca, tem pancadas que deixam qualquer um embasbacado mas todos fogem de si na hora de treinar. A vida de Ivo Karlovic no circuito dava um filme de animação, dos bons. Imagine a cena, que podia muito ter Quito, no Equador, como fundo:

O gigante de dois metros e onze levanta-se entusiasmado por mais uma jornada, corre para a receção para descobrir com que jogador vai partilhar o court nesse dia, mas rapidamente descobre que o espaço ao lado do seu nome, escrito por si no dia anterior na tabela de treinos, continua em branco.

Pede três tubos de bolas e, cabisbaixo e a arrastar o pesado saco das raquetes caminho fora, o bom gigante dirige-se ao court para treinar pela terceira vez nessa semana – e a enésima vez durante os últimos 17 anos – sozinho. Já se estava a imaginar a despejar um balde de pipocas enquanto assistia ao final feliz disto? Karlovic conta-lhe o resto.

“Não são muitas as vezes que consigo treinar com outro jogador”, confessou o croata de 37 anos ao site do ATP. “Eles não gostam muito de treinar comigo, mas não vejo qualquer problema nisso. Tenho é de ver o meu treinador quase todos os dias do outro lado da rede”, atirou Karlovic, entre as gargalhados do seu técnico, o sérvio Petar Popovic.

A sua direita chapada, o slice de esquerda e, claro, o seu serviço-bomba, não permitem a quem está do outro lado da rede construir a jogada e ganhar confiança. “Eles não estão habituados ao meu jogo e não conseguem ganhar ritmo. Mas acho que isso até é uma vantagem. Quanto menos eles treinarem comigo, menos se habituam ao meu jogo. Gosto de ter um estilo de jogo único”, acrescentou o número 18 mundial, derrotado esta sexta-feira no Equador.

As vantagens da solidão não acabam, assegura Karlovic, que encontrou no seu treinador a solução e a companhia ideais. “O bom de treinar com o Petar é que eu posso fazer os treinos específicos de que preciso”, frisou o croata, três anos mais velho do que o técnico dos Balcãs.

“Eu percebo que os outros jogadores não queiram treinar com o Ivo, porque ele dá-lhes zero ritmo. Cabe-me a mim estar em forma para treinar com ele. Nas férias, não é por acaso que treino três vezes por semana e vou ao ginásio. Ele espera que eu receba serviços a mais de 200 km/h todos os dias”, contou Popovic.

O final feliz? Vem agora.

“Acima de tudo, o Petar é um amigo, depois disso é alguém com quem treinei nos últimos três anos. Passamos muito tempo juntos e damo-nos muito bem. Ele tem muita piada”, revela Karlovic, e Popovic dá uma achega: “Às vezes, eu digo-lhe, ‘apanha isto, faz aquilo’. E ele diz, ‘Sim, pai!’. É engraçado porque ele é mais velho e mais alto do que eu. Arranjamos sempre maneira de nos rirmos de nós. É bom que seja assim, porque eu vejo-o mais do que à minha mulher e aos meus filhos”.

Quem precisa, afinal, de um nome ao lado do seu no papel?
Fim.