Thanasi Kokkinakis: Federer levou-me a almoçar ao edifício mais alto do mundo
Tem ar de miúdo das cantigas, daqueles que atuam em grupo e têm legiões de fãs a acamparem à porta dos locais dos concertos, mas verdade é que o brinco na orelha esquerda e a longa franja mandada para o lado servem só para distrair os menos atentos, porque na realidade ele vai dando música, sim, mas é aos seus adversários e no court.
Com 19 anos feitos há meia dúzia de dias, Thanasi Kokkinakis pode não passar de um miúdo que vai apalpando terreno num circuito onde quem manda são ainda os jogadores da velha guarda, mas vai já reclamando para si as atenções como gente grande. Não só da nata do ténis mundial, que o vai requisitando para sessões de treinos, como pela imprensa mundial.
O jogador de Adelaide esteve no estúdios da Fox Sport, na terça-feira à noite, e da passagem pelo programa The Back Page, resultou uma interessante compilação de momentos que a maioria dos mortais das raquetes não se poderá gabar, sequer, no final da carreira.
~ Federer e o almoço no edifício mais alto do mundo ~
Duas semanas no Dubai a convite de Roger Federer, durante a pré-época, serviram para ‘dar à raquete’, como seria de esperar, mas para muito mais do que isso: “Foi incrível, ele é inacreditável fora do court, tão descontraído. Levou-me a mim e à minha equipa a almoçar ao Burj Khalifa (o edifício mais alto do mundo) e conheci as suas filhas. Elas têm um pouco de pronúncia britânica, o que é engraçado, e parecem mini-Federers com cabelo comprido. Ele é tão simpático e aprendi tanto naquelas duas semanas”.
~ Seguidor de Marat Safin… mas não em tudo ~
Grande admirador do ténis do antigo campeão de títulos do Grand Slam e ex-número um mundial, Kokkinakis sonha igualmente um dia poder levantar o primeiro Grand troféu da temporada, ainda que se possa esperar bem mais entusiasmo na hora de festejar.
Celebrei a minha primeira vitória [no Open da Austrália] caído de costa no chão. O homem vence o Open da Austrália e cerra o punho. Não podes ser mais fixe do que isto.
~ Com quem pode contar no circuito? ~
Se é verdade que Andy Murray pode transformar-se no jogador mais cinzento do mundo na hora de competir, também não é mentira que as nuvens dão lugar a céu limpo e muito sol quando o encontro termina. “Tem-me apoiado muito. Tive uma sessão de treino no Open da Austrália. Foi de uma hora e meia, mas uma hora e meia mesmo muito intensa. Ele envia-me mensagens, diz que se precisar de alguma coisa para lhe dizer”.
~ “Ele só venceu o regional porque era o único no torneio” ~
Diz-nos o presente que os dois jogadores australianos mais promissores do circuito se vão cruzar muito no futuro. Mas então e o passado, quando foi que os dois se cruzaram pela primeira vez? “Nós vencemos os nossos campeonatos regionais – Kids Cup – eu sub 9 e ele sub 10 anos, porque é um ano mais velho. Eu viajei até Camberra (cidade-natal de Kyrgios), onde se realizou a prova… Tenho a certeza de que ele só venceu porque era o único a participar no torneio”.
Lembro-me de ter visto que ele era o primeiro cabeça-de-série. Ele era um rapaz grande, bastante pesado, mas batia de forma incrível na bola e usava uma banda na cabeça. Ele era muito bom, não muito diferente do que é hoje.
~ Pai por perto? Claro, mas não demasiado perto ~
“O meu pai e a minha mãe vêm aos meus encontros de vez em quando, mas estou convencido que é apenas porque o meu pai não pode ir trabalhar por estar doente. Eles não vêm muito. O meu pai veio a um dos encontros em Indian Wells. Ele fala tão alto na bancada. Eu estava a perder por 0-4 e duplo break, venci um ponto, e ele grita ‘Yeah, rapaz!’. Tentei dizer-lhe para se acalmar porque eu estava simplesmente a ser esmagado. Mas é bom tê-lo por perto”.
~ Mãe, o pior adversário de todos ~
A maior vitória da carreira do 106.º mundial aconteceu na primeira ronda do Open da Austrália, este ano, frente a Ernests Gulbis. Demorou cinco sets e mais de quatro horas a conquistar, mas há batalhas mais duras a serem relembradas pelo australiano, nomeadamente uma com a duração de quatro anos e que teve como adversário a sua própria mãe. ‘Game, set and filete’!
Na verdade, ela é uma boa cozinheira, mas a forma como ela o fazia… eu não o podia comer. Sentava-me à mesa e tentava comê-lo mas eu não conseguia. Quando todos se cansavam de esperar e a minha mãe ia dormir, por volta das 22h, e eu continuava sentado à mesa. Um dia, eu pensei ‘que se dane, eles foram para a cama’. Eu peguei no filete, saí pela porta e enterrei-o no jardim. Eu fiz isso durante quatro anos.