Gonçalo Oliveira: «Dormi no chão do aeroporto de Paris»
Aconteça o que acontecer amanhã, Gonçalo Oliveira pode ter a certeza, hoje, quando finalmente deitar a cabeça numa macia almofada, que leva do Millennium Estoril Open 2017 uma história para a vida. O número cinco português conquistou a melhor vitória da carreira na primeira ronda da fase de qualificação, mas é preciso recuar 24 horas para se perceber a grandiosidade da façanha.
“Se calhar, ainda estou no ar”, brincou o português de 22 anos, que chegou a horas de competir na terra batida do Millennium Estoril Open, vindo de Hammamet, na Tunísia, graças, em grande medida, a um rasgo de sorte.
“Foi uma viagem em cima da hora. Quando perdi não tinha bilhete nem podia comprar bilhete, mas a organização ajudou-me a ligar para o aeroporto. Viram que havia um avião a sair às 18h30 (de ontem) que tinha vaga, mas tinha que comprar o bilhete no aeroporto. Foi chegar lá e dez minutos depois já estava no avião. Dormi no chão em Paris, no aeroporto de Orly, no terminal West”, revelou, sorridente.
Jogar em Portugal, “com tanto apoio”, é um privilégio tal que o jovem portuense confessa que a vontade de passar às meias-finais na Tunísia passou a ser secundária quando soube, esta sexta-feira, que teria wildcard para a fase prévia do torneio nacional.
“Sinceramente, pouca vontade tinha de ganhar, porque se ganhasse não podia estar cá hoje. Sinto que estou a jogar muito bem, a atravessar um grande momento, muito confiante e acho que pode ser um grande ano”, sublinhou.
Amor e uma caravana
Filho de um dos grandes nomes do ténis nacional nos anos 80, Gonçalo cresceu a bater bolas no court de casa, mas a vida no circuito ITF mostrou-lhe que, por vezes, é fora de portas que se encontra o conforto que se precisa.
Aos 18 anos, e depois de algumas experiências domésticas pouco aconselháveis, o tenista português decidiu comprar uma caravana. “Nos motéis e nos hostels as camas são duríssimas, é quase como dormir no chão em Paris. Depois vi alguns amigos a fazerem disto modo de vida. Marcava treinos em eles e tinha que me levantar às 6 horas, 7 horas, e eles acordavam 15 minutos antes para estarem no clube, e eu disse: ‘também quer isso'”.
“Não é uma vida selvagem, sei quais são os clubes bons, que têm segurança e os que não vale a pena ir. Há uns 10 jogadores que fazem o mesmo estilo de vida e no final é tudo uma grande família”, revela.
O caminho de Gonçalo Oliveira no pó-de-tijolo do CT Estoril continua amanhã, diante de João Domingues, na derradeira da fase de qualificação.