Gastão Elias: «Não é preciso ser perfeito como o Federer»
Gastão Elias está a viver um momento de muitas e boas estreias. Depois de duas meias-finais consecutivas em provas ATP e a consequente escalada até à 61.ª posição da hierarquia mundial, a terceira melhor marca de sempre de um jogador português, o jogador da Lourinhã prepara-se para disputar os seus primeiros Jogos Olímpicos da carreira.
Antes de rumar ao Rio de Janeiro e embarcar na aventura no país a que chama de casa, o número dois nacional, que foi sexto no ranking mundial de juniores, em 2008, concedeu uma longa e muito reveladora entrevista ao especialista de ténis do jornal Público Pedro Keul sobre a incrível fase que atravessa.
A namorada e a sogra como catalisadoras de apoio
Uma medalha é difícil, é muito complicado, mas a maioria dos jogadores são ganháveis, tirando um ou outro que, mesmo estando num dia mau, será muito difícil ganhar-lhe. Para além de eles [os brasileiros] gostarem de portugueses, tenho o extra de ter treinado e vivido lá. Sem dúvida que vou sentir-me em casa; a minha namorada vai lá estar, a sogra também e elas atraem algum apoio para o meu lado (risos).
Uma questão de consistência
Não há como melhorar muito de um mês para outro, de uma semana para outra ou de um torneio para o outro. Foi só uma questão de um ponto aqui, um ponto ali, em que antes fazia a jogada tacticamente de forma errada e, com a experiência, estou cada vez a fazer menos ‘asneiras’ nos momentos importantes e isso faz muito a diferença.
A consistência, a experiência, opções mais correctas, mais seguras, e o físico – estou muito bem fisicamente, acredito que posso aguentar a jogar ao mais alto nível contra estes jogadores sem quebrar muito e isso também faz muita diferença. Não há muitos mistérios.
A difícil transição para o circuito profissional
Para um júnior é muito difícil ter esse nível de consistência tão cedo, é uma exigência totalmente diferente. É preciso ter paciência, não stressar. Houve épocas em que stressei muito, porque via colegas com quem eu treinava, como o Ryan Harrison, na terceira ronda de Indian Wells e eu estava num future no Brasil, onde perdi à primeira. É preciso ter um mínimo de técnica – não é preciso ser perfeito como o Federer – e, se se trabalhar todos os dias, não há como não evoluir. Não há segredos, nem treinos especiais.
“O Fognini já me tratou pelo primeiro nome”
Claro que o ranking de 61 dá-te muita confiança, e os outros respeitam-te muito mais, já senti isso. É totalmente diferente a forma como os jogadores me tratam. Antes, era uma sombra. O Fognini já me tratou pelo primeiro nome, o que é raro (a não ser que me conheçam ou tenham convivido comigo, como o Federer ou o Nadal) e isso faz a diferença nos torneios. Eles sabem que, se vacilarem, têm a possibilidade de perder o encontro. Trabalhei muito para ganhar esse respeito, é uma vitória. Sinto isso quando jogo com jogadores que estão mais acima.