Como eles continuam a viver com a corda na garganta
Uma espécie de financiamento. É assim que grande parte dos jogadores presentes em Paris encara a sua presença nos Grand Slam. Os prémios monetários nas rondas inaugurais dos Majors aumentaram a olhos vistos nos últimos anos, mas não de forma suficiente para tirar aos jogador de segunda linha a corda que trazem constantemente ao pescoço.
Ainda que o dinheiro que amealharam com pelo menos uma vitória no Grand Slam parisiense sirva para ter um resto de temporada mais desafogada, isso não impede que continuem a contar os tostões. Mas vamos a casos concretos, que nos chegam através da Associated Press.
Marco Trungelliti – Mais dinheiro no bolso do que nunca
Uma vitória na catedral da terra batida valeu a Marco Trungelliti, número 166 do ranking, 67 mil dólares (60 mil euros). “É a primeira vez na minha vida que tenho tanto dinheiro no bolso”,garantiu o argentino de 26 anos, que vai deixar de fazer contas à vida nos próximo meses para poder pagar ao seu treinador e suportar as deslocações para outros torneios.
Brian Baker – Contratar ou não contratar?
Brian Baker nem da primeira ronda passou, mas os 33 578 euros ninguém lhos tirou. E se vieram a calhar. Não chegam para se aventurar na contratação de um treinador, mas o norte-americano de 31 anos está a pensar em ter o seu próprio fisioterapeuta. Uma decisão que não pode – nem vai – ser tomada do pé para a mão.
“Será que eu quero gastar todas as minhas economias a contratar um treinador e um fisioterapeuta, apostando tudo neste ano, e esperar que corre bem? É sempre um grande ‘se'”,sublinhou o antigo top-60, que tem visto a sua carreira minada por lesões graves. “Se o teu corpo não aguenta, então cais para 150 ou algo do género. É uma situação complicada”.
Ricardas Berankis – O milionário falido
“No meu país, há muita gente que pensa que sou milionário, mas acreditem em mim, não é assim”,alertou Ricardas Berankis. O lituano de 25 anos, 50.º ATP, tem a fama mas não tem o proveito, ainda que haja mais dinheiro para distribuir pelos mais pobres nas fases iniciais das grande provas. O cachet da primeira ronda em Roland Garros dobrou desde 2011, e na segunda e terceira rondas o aumento foi mais do que o dobro.
O Open dos Estados Unidos distribuiu 19 mil dólares (17 mil euros), 31 mil dólares (27 mil euros) e 50 mil dólares (44 mil euros) na primeira, segunda e terceira rondas, respetivamente, em 2010. No ano passado, os números subiram para 39 500 dólares (35 mil euros), 68 600 dólares (61 mil euros) e 120 200 dólares (107 mil euros). A intenção é dar os jogadores menos cotados as mesmas oportunidades que têm os jogadores de topo.
Sobre isso, Berankis atira: “é uma piada”. O jogador considera que estes aumentam não servem para mais do que atirar areia para os olhos dos jogadores. Uma opinião que sustenta com o facto de, no ano passado, Roland Garros ter tido 220 milhões de dólares (197 milhões de euros) de receita, sendo que despendeu não mais do que 30 milhões (quase 27 milhões de euros) em prize money.
“Eles dão-nos um amendoim aqui e outro ali e gritam ‘estamos a ajudá-los muito’. Não é nada justo”, defendeu o lituano, marcando o seu ponto de vista com uma longa lista de despesas que rapidamente fazem desaparecer os “amendoins” que lhes são oferecidos. Em Paris, partilhou mesmo um fisioterapeuta com outros dois jogadores.
Encordoar raquetes é 30-35 dólares (26-31 euros), sendo que são necessárias seis a oito por encontro. Um treinador custa entre 1600 e 5500 dólares por semana e há ainda os voos e os impostos. Gastos com as quais outros atletas não têm de se preocupar, lembra. “Os jogadores de futebol e os jogadores de basquetebol não têm de pagar as suas próprias despesas… é tudo pago pelo clube. Essa é a grande diferença”.
Johanna Larsson – Forreta à força
Johanna Larsson controla cada cêntimo que lhe sai do bolso. Além de andar sempre à cata de voos baratos, deixa os hotéis de lado na hora das reservas. Os luxos saem caros e, a ter de gastar dinheiro, prefere gastá-lo a contratar, por exemplo, um parceiro de treino durante um par de semanas. Não mais do que isso, pelo menos até esta fase do ano. Quanto ao treinador, só pode contar com ele em alguns torneios. “Não é tão glamoroso quanto parece”.
“Tento economizar dinheiro na maioria das coisas onde o posso fazer, e acho que é assim praticamente com todos os jogadores. Os que estão no top-20 não precisam de se preocupar muito, mas é precisa chegar lá”, salientou a 62.ª mundial, que ao ter chegado à segunda fase em Paris amealhou 67 mil dólares (60 mil euros). “Os Grand Slams servem, basicamente, para financiar o nosso ténis”.
Gilles Muller – Um pai de família
Para alguns jogadores, ficar lesionado ou ter uma boa recuperação é um luxo. Gilles Muller, número 42 do mundo enquadra-se nesse lote. “Não posso dar-me ao luxo de ter um fisioterapeuta. Com a temporada que fiz no ano passado, podia ter esticado a corda para isso, mas é um risco demasiado grande. Tenho uma família”, referiu o luxemburguês de 33 anos.