8 questões para responder durante a temporada de terra batida
Houston e Marraquexe foram os aperitivos para o início de uma fase da temporada que terá o seu primeiro grande momento esta semana, com a realização do primeiro Masters jogado em terra batida, em Monte Carlo. Muitos dos destaques desta época já são mais que conhecidos. Os regressos em grande de Roger Federer e Rafael Nadal, o ocaso de Andy Murray e Novak Djokovic, a intermitência de Stan Wawrinka, ou, até mesmo, o renascer de Grigor Dimitrov, contudo muitos dos dados mudam agora, com a alteração do piso. O pó-de-tijolo está aí e com ele questões que ficam no ar.
Nadal sob o signo do número 10?
Parece difícil de acreditar para quem não acompanhe tanto a modalidade, mas Nadal chega à terra batida com a possibilidade de alcançar o décimo título em três torneios diferentes, Monte Carlo, Barcelona e Roland Garros. Não é muito normal numa era tão competitiva do ténis que algum jogador consiga estar à beira dos dois dígitos de troféus numa única prova, mas Rafa está. E isso apenas evidencia que se o espanhol não é o melhor jogador da história em terra batida, não anda muito longe.
O regresso estratosférico de Roger Federer empurrou para fora das manchetes a, também ela meritória, época do maiorquino. Nadal já atingiu três finais (Austrália, Acapulco e Miami) mas tem visto no seu rival suíço a sua verdadeira besta negra. O ascendente de outrora parece que mudou de lado, mas o espanhol tem tido pelo menos o mérito de ter regressado às decisões, algo não muito normal nos últimos anos. E agora na sua “querida” terra batida, Nadal tem tudo para confirmar o crescendo que vem demonstrando.
Ponto de viragem para Djokovic?
Já foi mais que analisada por vários intervenientes do ténis a época menos conseguida do ex-número 1 mundial. Djokovic está de facto a viver um dos piores inícios de época dos últimos anos. O final da anterior já não tinha sido famoso, com o sérvio a lidar com algumas lesões, mas, sobretudo, com uma difícil ressaca emocional do título em Roland Garros.
Agora Nole parece querer dar a volta à situação. O pequeno período fora dos courts e o recente regresso vitorioso na Taça Davis poderão jogar a favor do sérvio, mas só em competição poderemos confirmar se temos de volta o verdadeiro Djokovic. E o vencedor de 12 majors bem precisa de o fazer, pois está obrigado muito trabalho na defesa de pontos para o ranking mundial.
Murray preparado para a terra batida?
Ao longo dos anos foi-se criando a ideia que o jogo de Andy Murray perdia eficácia na terra batida. Apesar de ser de longe um dos melhores tenistas das últimas décadas, o escocês não se mostrava ao mesmo nível nos torneios jogados sobre esta superfície. No entanto, não podemos negar que isso é algo que o líder do ranking tem feito por melhorar nos últimos anos. Principalmente, nos últimos dois. Vitórias em Madrid e Roma, final em Roland Garros, tendo pelo meio, superado verdadeiros monstros como Nadal e Djokovic. Não há dúvida que Murray está melhor.
No entanto, a recente lesão no cotovelo poderá condicionar um pouco o escocês na busca por melhores resultados nesta fase da temporada. A liderança do ranking não está em risco, mas de certeza que Murray gostaria de estar a 100% para mostrar que os resultados menos bons desta temporada não possam disso mesmo e que é ele o verdadeiro chefe do circuito.
Que esperar de Federer?
O suíço já adiantou que, muito provavelmente, só jogará em Roland Garros (e mesmo este não é garantido) durante estes dois meses. Há uma gestão física que Roger não descura, isto se quiser estar ao mais alto nível nos momentos mais importantes da época. Daí que se coloque a questão de saber até que ponto o helvético irá continuar com a campanha vitoriosa que tem caracterizado o ano de 2017. Federer já referiu que, tendo como objetivo a vitória em Wimbledon, os torneios jogados sobre o pó-de-tijolo perdem alguma relevância.
Wawrinka em modo Grand Slam?
Se há jogador que se transcende nos grandes momentos esse jogador é Wawrinka. Há um Wawrinka nos majors e outro nos restantes torneios. Só assim se explica que um tenista que está à beira de completar o Grand Slam de carreira tenha tão poucos títulos no currículo. Isto, claro, comparado com jogadores com um perfil semelhante. Resta saber se o suíço se irá apresentar com maior consistência nestes dois meses e se por exemplo alcançará o nível que lhe permitiu conquistar Roland Garros em 2015.
Conseguirá Thiem dar sequência ao bom nível do ano passado?
Houve poucos jogadores que tenham estado mais tempo sob a luzes da ribalta, no ano transato, do que o austríaco Dominic Thiem, um maratonista que jogou um número invulgar de torneios nesse período. E a terra batida não foi exceção. Aliás, há quem considere mesmo que o jogo de Thiem se pode adaptar bem a esta superfície. Veremos. Para já o austríaco tem a missão de defender vários pontos até ao final de Roland Garros e de tentar dar o passo em frente, nomeadamente, nos confrontos com jogadores de ranking superior.
Kyrgios como líder da nova geração?
Já desde 2014 que ouvimos falar de Nick Kyrgios como um potencial vencedor de títulos do Grand Slam. Mas o que é certo é que o australiano tem tardado em confirmar tal previsão. Polémicas dentro e fora dos courts são recorrentes, bem como a falta de consistência, algo que não lhe permite dar sequência aos excelentes momentos com que, de vez em quando, nos vai brindando.
Contudo, este ano já temos visto alguns sinais de que algo pode estar a mudar. A desapontante derrota em Melbourne perante Andreas Seppi na segunda ronda do Open da Austrália, foi apenas um ponto negativo numa época que tem mostrado um Kyrgios diferente. Exibições de grande nível permitiram-lhe ganhar duas vezes consecutivas a Djokovic e protagonizar uma das melhores partidas da temporada, onde fez suar (e muito) Federer. Conseguirá Kyrgios manter este nível na terra batida? Superando, por exemplo, a barreira dos quartos-de-final num major?
De onde poderão vir as surpresas?
Por surpresas poder-se-á considerar títulos do Grand Slam ou do Masters fora dos cinco primeiros do ranking. Há jogadores a fazer épocas excelentes, casos de Grigor Dimitrov, Jack Sock ou Alexander Zverev. Há jogadores como Roberto Bautista, Lucas Pouille ou David Goffin que, num dia bom (ou numa semana boa) são capazes de se bater com os melhores. E depois há sempre aqueles tenistas que, estando já há muitos anos no topo, espreitam sempre uma oportunidade para surpreender, ainda que essa não tenha sido a regra nos últimos anos, pelo menos ao nível de títulos grandes. Kei Nishikori (talvez seja a exceção), Milos Raonic, Marin Cilic, Gael Monfils (que até está lesionado), Tomas Berdych ou Juan Martín del Potro são sempre tenistas a ter em conta.