Norte-americano negro diz preferir jogar fora do seu país por causa do racismo
Evan King, atual número 185 do Mundo, de 28 anos, desabafou este sábado numa longa mensagem para a página de Instagram do ‘Behind The Racquet’, onde falou de racismo, revelou como mudou a sua carreira em 2015 e explicou porque não gosta de jogar no seu país mas sim fora dos Estados Unidos.
“O início de 2015 foi um período sombrio para mim. Tinha decidido retirar-me do ténis, escapar desta bolha e voltar ao mundo real. Com essa mudança de vida, teria mais tempo para viver, refletir e consumir tudo o que está além do ténis. Durante esses meses, alguns assassinatos racistas aconteceram nos Estados Unidos, com Travyon Martin e outros menos mediáticos”, começou por lembrar King, que explicou a influência que esses episódios tiveram na sua vida.
“Os assassinatos ainda estavam a acontecer mas eu não estava mais focado apenas na bolinha amarela, pois pensei que qualquer daqueles assassinatos poderia ter sido eu. Todas essas suposições levaram-me a terrenos sombrios. Eu tinha 22 anos e já pensava em tudo aquilo que deixaria para trás se a minha vida terminasse inesperadamente. Pensei que queria ter um filho, deixar algo para trás se morresse, para garantir que minha linha familiar não terminasse comigo”, desabafou.
https:\/\/bolamarela.pt//bolamarela.pt//www.instagram.com/p/CBBVFThgRbl/
King assume que chegou a achar que estar vivo era… uma sorte. “De repente, senti a sorte de ainda estar vivo. Ia a cemitérios todas as semanas, olhava para as lápides e ficava emocionado de todas as vezes que o falecido era mais novo que eu. Nem todas as mortes tinham uma causa racial por detrás delas, mas continuei a fazer esse ritual para ter uma perspectiva e apreciar que havia atingido os 23 anos de idade, sabendo que outras não chegaram lá. Senti um choque de maturidade na minha vida muito antes do normal. O meu objetivo era chegar aos 25, tudo o que viesse depois seria um presente.”
Todos estes sentimentos levaram a que King não se sinta bem a jogar no seu país. “Estes sentimentos duraram alguns meses. Com o tempo, encontrei uma maneira de lidar com estes pensamentos e entorpecer ligeiramente essa perspectiva da vida. À minha volta havia um grande grupo de pessoas que me impediram de atravessar aqueles cemitérios e nessa altura voltei ao circuito. Desde então, viajo bastante pelo Mundo, mas sou um dos poucos jogadores americanos que prefere jogar fora dos Estados Unidos. Sinto-me mais seguro a andar numa rua no Cazaquistão ou na Bósnia do que em muitos lugares do meu país.”