Gustavo Kuerten e os ténis rotos na final da Masters Cup de Lisboa
3 de dezembro de 2000: “Se um dia tiver um filho, posso dizer-lhe que já fui número um do mundo, é o melhor dia da minha vida”. Foi em bom português e com o troféu da Masters Cup bem seguro entre os dedos que, em pleno coração do então Pavilhão Atlântico, Gustavo Kuerten fez o seu primeiro discurso enquanto líder do ranking mundial.
Quinze anos volvidos desde o momento em que se tornou no primeiro jogador sul-americano a alcançar o topo do ranking mundial, o brasileiro de 39 anos não faz por esconder o orgulho e a emoção que continua a sentir nas conquistas alcançadas em Portugal.
Tanto assim é que o tricampeão de Roland Garros tem aproveitado a sua página do Facebook para relembrar alguns dos melhores, mais marcantes e caricatos episódios que marcaram aquele início de dezembro no primeiro ano do milénio.
E se o final feliz não escapou a Kuerten, a verdade é que nem tudo foram rosas no derradeiro encontro do Masters (atual ATP Finals), diante de Andre Agassi. E a culpa foi, curiosamente, do ténis. Ou melhor, dos ténis. Recusando-se a viajar com mais do que uma mala destinada aos equipamentos, o ex-jogador brasileiro trouxe para o nosso país apenas dois pares de sapatilhas.
Problema: um deles tinha sido desenhado especialmente para terra batida. “Como todos ténis novos, a sola prendia no chão, não deslizava, não tinha condições para jogar com aquilo. Para ficar bons, o Larri [Passos, seu treinador] teve que lixar a sola. Passou a tarde a fazer isso”.
“Mesmo assim, preferi entrar em court com os tênis velhos e rotos, com a língua de fora. Claro que eles não aguentaram. A meio do embate com Agassi, tive que trocar de ténis; meti de lado os estragados e calcei a obra de artesanato do Larri”.
O resultado já nós sabemos: derroutou Agassi em três partidas, naquele que diz ter sido o seu melhor encontro de sempre, para se sagrar campeão da Masters Cup de Lisboa e alcançar os píncaros do ténis.