Federer recorda rivalidade com Djokovic e Nadal: «Adorava sentar-me e falar sobre os velhos tempos»
Desde que se retirou em 2022, Roger Federer continua muito presente na vida tenística, agora com um papel praticamente de embaixador da modalidade.
O vencedor de 20 títulos do Grand Slam, no dia em que se soube da sua entrada para o Hall of Fame em 2026, deu uma entrevista muito interessante ao Tages Anzeiger, onde falou da sua vida atualmente, da sua rivalidade com Novak Djokovic e Rafa Nadal e ainda do seu legado na modalidade.
ENTRADA NO HALL OF FAME
Provavelmente foi mais fácil do que eu pensava. Nunca achei que chegaria ao Hall da Fama do Ténis nem que venceria Wimbledon, etc. Simplesmente esperava entrar no circuito profissional. Esperava não me ter enganado ao deixar a escola aos 16 anos, mas tudo foi mais fácil e rápido do que imaginava. Embora, claro, também tenha tido as minhas dificuldades e contratempos.
MUDAVA ALGUMA COISA NA CARREIRA?
Não, absolutamente nada. Gostaria de reviver tudo, com os seus altos e baixos. Todas essas experiências fizeram de mim quem sou. Nunca tentei fingir ser outra pessoa, excepto em campo, claro, onde fazia cara de póquer para me proteger do adversário. De resto, tentei sempre ser autêntico, tanto na vitória como na derrota. Foi uma viagem maravilhosa. Às vezes foi duro, muitas vezes emotivo. Vivi toda a gama de emoções.
ALGUMA VEZ FOI AO LIMITE?
O mais difícil para mim foi a transição do ténis juvenil para o profissional. No início foi óptimo. De repente estava no balneário com Pete Sampras, Andre Agassi, Tim Henman, Yevgeny Kafelnikov, Carlos Moyá e outros e pensei: ‘Isto é o máximo!’ Mas depois tudo se tornou muito sério. Um tipo enrola a fita adesiva na raqueta com uma cara fechada e pensas: ‘Caramba, que intensidade!’ Outro passa por ti sem sequer olhar e pensas: ‘Ele quer mesmo ganhar a todo o custo!’ E, no entanto: será assim tão importante? Essa fase foi dura para mim. Quando viajas muito, perdes muitas vezes e estás emocionalmente tão alterado como eu estava, pensas: ‘Eu não li as letras pequenas do contrato do ténis’. Nem tudo é diversão. Essa seriedade afectou-me. Os anos entre os 18 e os 20 ou 21 foram difíceis para mim.
TREINA O FILHO LEO?
Não. Se precisarem de mim, estou lá. Adoro ajudar, também outros miúdos, mas alguém deve assumir o treino. Com o Leo vejo-me mais como um director-geral. Não o pressionei durante muito tempo, mas há cerca de um ano, ao notar que ele quer jogar cada vez mais, tento que possa fazê-lo. Nesta idade precisa de prática suficiente e de muitos jogos.
Asseguro-me de que o Leo tenha bons treinadores e bons parceiros de treino. Organizar tudo isso dá bastante trabalho. Não se pode simplesmente mandá-lo para um sítio qualquer e ver o que acontece. Acho que o Leo está a ir muito bem. Agora também participa em alguns torneios. Para mim é emocionante apoiá-lo. Preocupo-me menos com os resultados e mais com que se divirta e evolua.
O QUE FAZ DESDE QUE SE RETIROU
Depois de me retirar, fiz muita reabilitação. Não foi como se estivesse a praticar muito desporto e, de repente, tivesse parado completamente. Continuei a treinar, mas deixei de jogar ténis para proteger o joelho. Fiz pilates e experimentei golfe. Surpreendentemente, não senti dor. Por isso joguei mais golfe e tentei melhorar. O que estou a aprender agora no golfe pode ser útil no futuro. É como andar de bicicleta ou nadar: não se esquece. Mas agora tenho ido mais ao ginásio.
Sinto-me melhor do joelho. Já estou a jogar muito mais ténis. No verão joguei de vez em quando com o Ivo Heuberger. Como os meus filhos jogam mais e melhor, também jogo com eles de vez em quando. O meu objetivo continua a ser fazer algumas exibições. Talvez aconteça alguma coisa em 2026. Agora estou a preparar-me pouco a pouco até ao fim do ano.
RIVALIDADE COM DJOKOVIC E NADAL
Rivalidades como essa criam uma ligação enorme. Hoje vejo tudo de forma muito diferente, com muito mais perspectiva. O Novak ainda não entende. O Rafa está a assimilá-lo aos poucos. Quando ainda estás a jogar, não consegues pensar nisso como eu penso agora. Quanto mais tempo passa, menos te identificas como jogador individual e mais vês o panorama geral. O curioso é que algo que alguém levou muito a peito pode ser algo de que já nem te lembras. Adoraria sentar-me a conversar sobre os velhos tempos.
LEGADO DE FEDERER
Muita gente disse-me que ajudei a levar o desporto para uma nova era e isso significa muito para mim. Espero ter contribuído para fortalecer o ténis a nível mundial, que assistam mais espectadores, que os torneios cresçam e que os jogadores ganhem mais e que as estrelas do ténis também sejam reconhecidas para lá do desporto.
Quando se fala das atletas femininas mais famosas do mundo, muitas vezes referem-se a tenistas, um grande feito para o nosso desporto, graças também a pioneiras como Billie Jean King. Claro que existem questões políticas complexas no ténis, mas, no geral, espero ter contribuído para que o desporto que amo continue a prosperar.
Leia também:
- — Sinner elogia Alcaraz: «Merece ser número 1. É nele que me inspiro para melhorar»
- — Em casa manda ele! Sinner impõe-se contra Alcaraz e revalida o título nas ATP Finals
- — Sinner e uma estatística que o coloca entre os melhores da história
