Palavra de João Cunha e Silva #6: O Treino Individual e Standard [parte II]

Por admin - Fevereiro 22, 2016

Para ler a primeira parte, clique aqui

Estes são os 4 últimos capítulos deste trabalho, que começou a ser publicado no número anterior.

São eles:

  • O MEIO ONDE O JOGADOR É FORMADO;
  • A INFLUÊNCIA DO ESTILO DO TREINADOR;
  • A CRIAÇÃO DE UM ESTILO DE JOGADOR (SERÁ ISSO ESSENCIAL?);
  • O CALENDÁRIO COMPETITIVO DO ATLETA.

O MEIO ONDE O JOGADOR É FORMADO

Este é um capítulo importante como os outros, ou talvez mais! Com o qual lidamos quase diariamente, porque seguimos vários jogadores, de diferentes idades. E vou-me concentrar neste assunto em dois aspectos: primeiro, a importância dos pais; segundo, as condições disponíveis.

A influência dos pais é quase sempre determinante no desenvolvimento e também no comportamento do atleta juvenil. Principalmente nas idades mais jovens. A parte dos pais é, certamente, muito importante no trio: jogador / treinador / pais.

Isto deve ser um trabalho de equipa! E, por isso, é assim fácil de entender que uma boa relação entre estas três partes facilita muito as coisas. Mas, que fazer quando os pais, ou um deles, não percebe o “espaço” do treinador, ou não permite que este interfira em certos aspectos com o jovem, essenciais ao seu desenvolvimento como jogador? Mesmo que o atleta queira, estamos, provavelmente perante uma situação de insucesso, ou que ficará aquém das reais potencialidades. A menos que o pai, ou a mãe, se venha a revelar um bom treinador para o filho.

Esta é também, talvez, uma boa razão pela qual hoje em dia, as “Academias” têm, normalmente, bons resultados um pouco por todos os países. Quando os jogadores são “enviados” para esses locais, muitas vezes até dormindo e estudando lá dentro, trabalhando com equipas técnicas, os pais interferem menos.

Serena Williams com o seu pai, Richard

Serena Williams com o seu pai, Richard

O segundo aspecto terá de ser as condições que o rodeiam.

Se um jogador começar a praticar só num tipo de superfície, as condições que ele conhece serão apenas essas. Será muito difícil não o ver procurar um estilo, uma maneira de jogar, privilegiar alguns tipos de golpes e jogadas, com que normalmente se obtêm melhores resultados nessa superfície. Seja ela terra, dura, ou relva.

E, mais uma vez, aqui terá de ser o treinador a ajudar o atleta, fazendo-o perceber o jogo e a encará-lo com uma mentalidade diferente, se for o mais apropriado para ele. Trabalhando pancadas e jogadas que melhor sirvam os seus objectivos (entrámos aqui, de novo, no treino individualizado).

É da responsabilidade deles (treinador/ jogador) depois, fazerem um calendário competitivo, que melhor sirva as qualidades e prestações do atleta. Já se está aqui a fazer um “approach” ao último capítulo “O Calendário Competitivo”, porque na realidade isto deve “funcionar” tudo em conjunto.

A INFLUÊNCIA DO TREINADOR

Apesar de tudo o que tenho escrito, é óbvio que, se o treinador foi um bom jogador, alguma influência nos seus jogadores irá ter sempre. E, se isso significar disciplina, trabalho, rigor, ambição, honestidade, comportamento, boa atitude, pode realmente ser uma boa influência e eles podem ter muito a aprender com ele.

Ele poderá também ser muito útil, se tiver a capacidade de ensinar e transmitir algumas das suas melhores jogadas, explicando quando e como elas podem ser usadas. Mas sempre, tendo em conta as qualidades dos seus jogadores, as suas capacidades (outra vez presentes as físicas, também!) e as suas fraquezas.

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

Eu já vi e senti, treinadores, especialmente ex-jogadores, tentar fazer os seus jogadores usar algumas “armas”, resolver alguns problemas, querendo impor alguns dos métodos que com ele davam resultado (ao seu estilo). Esquecendo, por completo, ou nunca percebendo, que em mãos, tinham alguém com outras possíveis soluções, onde poderia ser muito mais forte.

Eu trabalhei 10 anos com uma psicóloga. E uma coisa em que acredito profundamente, é que o próprio treinador, hoje em dia, tem de saber muito de psicologia. E de conhecer bem a maneira de ser dos seus atletas. Como o jogador reage. E em diferentes situações, debaixo de pressão.

A CRIAÇÃO DE UM ESTILO DE JOGADOR (SERÁ ISSO ESSENCIAL?)

Este é um dos sub-temas de que eu mais gosto! E algo em que sempre muito tenho pensado.

Eu penso que isto tem de estar directamente relacionado com “O Meio Onde O Jogador É Formado”. Em Portugal, por exemplo, se decidíssemos continuar a organizar os campeonatos nacionais e principais em terra batida, poderia ser uma opção. Provavelmente, até mais natural do que poderia parecer numa primeira análise. Mas traz-nos então outra questão, que é impelir-nos a ter um método de ensino. Necessitaríamos então, como referi logo no primeiro sub-título, de uma metodologia de treino.

Isto pode levar anos a conseguir! É necessário muita formação, diferente mentalidade. Em minha opinião, em países como o nosso, isto não é essencial! E é perigoso de fazer, como primeiro passo. Agora, felizmente, com vários torneios internacionais em vários lugares do país, até nos afastámos disso.

É mais fácil fazer num Clube, numa Academia, ou numa Região. Em lugares pequenos. Mas, como sempre, para ser desenvolvido com critério e cuidado. Estando sempre alerta se se encontrar um jogador diferente! (Como o Stefan Edberg, na era pós – Bjorn Borg, na Suécia!).

E onde tem começo e lugar o treino individualizado? Caso contrário, o trabalho e os resultados vão, certamente, ser pobres.

O CALENDÁRIO COMPETITIVO DO ATLETA

A programação do atleta, numa primeira fase, pode ser “standerizada”, tendo em conta vários aspectos a desenvolver no jogo. Como forma de ele melhorar, se tornar mais forte e mais completo.

Mais tarde, os torneios devem então começar a ser escolhidos, privilegiando as superfícies favoritas do jogador e onde este possa tirar mais vantagem das melhores qualidades e pancadas. Paralelamente, treinador e jogador têm de trabalhar seriamente nas fraquezas do atleta, dando, no entanto, oportunidade a este de competir mais vezes onde se sentir mais à vontade. Aproximando-se o profissionalismo, as primeiras prioridades começam a ser o ranking, os pontos e o dinheiro.

E começa a ser mais fácil, o jogador fazer resultados e a confiança cresce, em competições onde ele gosta de jogar, mesmo que o quadro de jogadores seja mais forte, ou o prémio em disputa e os pontos sejam menos, do que em torneios onde ele não gosta de ir e onde vai perder de qualquer maneira. Mesmo contra adversários mais fracos.

E é preciso notar que, por vezes, a preferência do jogador onde competir, não está só relacionada com a superfície. Outros factores podem-se tornar importantes. Tais como, o clima, o tipo de bolas, ambiente à volta do torneio, amigos, locais, etc. E tudo isto, deve ser considerado e respeitado.

ATÉ À PRÓXIMA!

João Cunha e Silva

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A Cunha e Silva Tennis Academy

A Escola de Ténis CETO/João Cunha e Silva surgiu em 2000, altura em que João Cunha e Silva, o mais internacional de todos os jogadores portugueses na Taça-Davis e ex-número 1 mundial de juniores em 1985, abandonou a sua carreira de jogador profissional. Com instalações em Nova Oeiras, sempre vocacionada para o ensino e prática do ténis.

Passados 15 anos, Cunha e Silva continua à frente da Escola / Academia de Ténis com uma equipa técnica de grandes profissionais, a formar grande quantidade de jovens e a treinar excelentes jogadores. Alguns dos quais com resultados muito significativos em provas ATP, WTA, ou ITF. De entre os muitos e excelentes jogadores de ténis que a Escola / Academia CETO/João Cunha e Silva já formou, desenvolveu e aperfeiçoou, destacam-se pelos seus resultados relevantes tanto a nível nacional como internacional, Frederico Gil, Rui Machado, Leonardo Tavares, Pedro Sousa, João Domingues, Gonçalo Nicau, Gonçalo Pereira, Martim Trueva, Gonçalo Falcão, Francisco Dias, Felipe Cunha Silva, Bárbara Luz, Catarina Ferreira, Elitsa Kostova, Patrícia Martins, Anna Savchenko, Joana Valle Costa, Sofia Sualehe, Carlota Santos, Claudia Cianci, Rebeca Silva.

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