Jorge Dias: «Se acham que o Carlos decidiu mal, mudem o código de conduta»

Por Susana Costa - Setembro 9, 2018

Nas últimas 24 horas, o caso Serena Williams-Carlos Ramos, que marcou a final feminina do Open dos Estados Unidos, originou um extenso rol de opiniões, algumas das quais de pessoas que pouco ou nada têm a ver com a modalidade, que pouco ou nada sabem sobre as regras que estão por detrás das decisões dos árbitros de cadeira.

Tomámos a liberdade, por isso, de ouvir o português mais habilitado e credível para falar sobre o aceso episódio que promete fazer correr muita tinta: Jorge Dias, o antigo árbitro português, considerado, em tempos, o melhor do mundo. Para aquele que se tornou no primeiro árbitro de cadeira não inglês a estar numa final de singulares de Wimbledon, em 2001, há polémica onde não devia existir.

“As decisões do Carlos foram correctas, todos os árbitros reagem de maneira diferente, mas se há um código de conduta é para ser usado, para todos os jogadores, em todos os torneios”, começou por dizer Jorge Dias ao nosso site. “Se há alguém que não está de acordo, se acham que o Carlos decidiu mal, então terão de falar com a ITF [Federação Internacional de Ténis] para mudar as regras e o código de conduta. É simples”.

O antigo árbitro, que deu os primeiros passos na sua carreira em 1983, sublinha que “regras são regras; código de conduta é código de conduta”, defendendo que há “muita gente que critica sem conhecer o código de conduta”.  Aconselhando, por isso, que o façam antes de formularem opiniões: “Com a Internet, é simples, basta ir Google e aceder ao site da ITF. Todas as pessoas podem fazer download do livros de regas dos Grand Slams. Todos os regulamentos, procedimentos e códigos de conduta estão acessíveis. Depois podem fazer os comentários e críticas que quiserem”.

Relembre-se que Carlos Ramos atribuiu um warning a Serena Williams por ter recebido orientações dos seu treinador a partir da bancada (coaching), depois disso penalizou a norte-americana com um ponto por ter destruído a raquete e por, por fim, castigou-a com um jogo, por ter sido insultado pela ex-número um mundial, com palavras como “mentiroso” e “ladrão”.

O respeito que admite ter por Carlos Ramos, de quem foi “professor”, leva Jorge Dias a confiar plenamente nas suas capacidades profissionais.“Tenho a honra de ele me ter substituído no Grupo de Grand Slam Officials da ITF. Muita gente não sabe, mas quando deixei o posto de full-Time ITF, foi porque estava cansado de viajar e daquela roda-viva”.

“Mas o motivo que me levou a retirar nesse mesmo ano (2003) e não nos outros a seguir foi porque sabia que, ao sair nesse ano, entrava o Carlos Ramos para o meu lugar. Considerei que seria o momento ideal para ele se ‘levantar'”, revelou o antigo árbitro português, que conta com dois Jogos Olímpicos, três finais da Taça Davis, três finais da Fed Cup, cerca de 25 finais WTA e algo como 69 finais ATP no seu invejável currículo.

Mantendo o jeito paternal para com Carlos Ramos, Jorge Dias confessa ter feito chegar, de imediato, o seu apoio a Nova Iorque. “Logo depois do encontro, enviei uma mensagem de apoio ao Carlos, porque mesmo que tenha feito o que devia fazer, sabia que o ambiente para ele no US Open não seria fácil”.

Descobriu o que era isto das raquetes apenas na adolescência, mas a química foi tal que a paixão se mantém assolapada até hoje. Pelo meio ficou uma licenciatura em Jornalismo e um Secundário dignamente enriquecido com caderno cujas capas ostentavam recortes de jornais do Lleyton Hewitt. Entretanto, ganhou (algum) juízo, um inexplicável fascínio por esquerdas paralelas a duas mãos e um lugar no Bola Amarela. A escrever por aqui desde dezembro de 2013.