Amanhã somos todos Hewitt

Por admin - Janeiro 20, 2016

Quando, amanhã, se estiver a levantar para iniciar mais um dia como tantos outros, Lleyton Hewitt, um dos grandes jogadores das duas últimas décadas, vai estar a entrar pela Rod Laver Arena sem a certeza de que voltará a pisar o maior e mais importante court de Melbourne Park enquanto jogador profissional.

A cerca de um mês de completar 35 anos, o mais novo número um da história da modalidade prepara-se para colocar um ponto final numa carreira que só pode ser encarda como admirável. Longe do talento de muitos, “Rusty” fez o que poucos conseguem: recusou desperdiçar uma réstia do seu potencial.

Nem sempre foi o mais adorado dos jogadores, mas o tempo tudo cura – ou tudo muda – e a postura irreverente que lhe chegou a valer o título de tenista mais odiado de todos, nos primórdios da sua carreira, deu lugar a ponderadas atitudes que o fazem receber, hoje, o respeito e o apoio dos que habitam muito para lá (e para cá) dos Antípodas.

Se o 213.º encontro em Grand Slams, disputado esta quinta-feira diante de David Ferrer, for o último da sua carreira, resta-nos a certeza de que para a história fica uma mão-cheia de momentos memoráveis do campeão de dois títulos Grand Slams, 30 troféus ATP e duas Taças Davis.

Final Taça Davis 2000 vs. Alberto Costa

Hewitt tinha 19 anos e um pequeno ódio de estimação pela terra batida, ou não fosse uma superfície que pouco em comum tem com o polido e rápido piso australiano. Mas tratando-se de Taça Davis, o assunto muda, irremediavelmente, de figura. Depois de ter ido ao Brasil roubar uma incrível vitória a Gustavo Kurten, dois meses antes, o jovem australiano derrotou o espanhol Alberto Costa (campeão de Roland Garros em 2002) na final disputada em Barcelona, depois de uma acesa batalha que terminou com os parciais de 3-6, 6-1, 2-6, 6-4, 6-4 e o público espanhol absolutamente incrédulo. Kim Clijsters, sua namorada e uma das melhores jogadoras na altura, não faltou a um dos primeiros grandes triunfos de Hewitt.

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Final San Jose 2002 vs. Andre Agassi

A temporada de 2002 começou mal, com Hewitt a ceder na primeira ronda do Open da Austrália. Depois de seis semanas a ultrapassar as mazelas de uma indesejável varicela, regressou em força no Open de San Jose. Encontrou Andre Agassi na final mas não se intimidou com o peso do nome e acabou por erguer o troféu depois de salvar dois match points. O que os parciais não deixam transparecer – 4-6, 7-6 (8-6), 7-6 (7-4) – o vídeo esclarece:

[alerta: tweener de Agassi]

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“O Lleyton consegue estar à altura dos grandes momentos. É um grande competidor, o seu jogo é consistente e nos momentos importantes joga de forma agressiva, arrisca e toma o controlo do ponto”, disse, no final, Agassi, que terminou a carreira com um frente-a-frente de 4-4 diante do australiano.


Final Masters Cup 2002 vs. Juan Carlos Ferrero

Depois de uma temporada desgastante, em que se sagrou campeão de Wimbledon e teve de carregar nos ombros o pesado estatuto de número um mundial, Hewitt chega à Masters Cup (atual ATP World Tour Finals), em Xangai, aparentemente sem energia para defender o título conquistado em 2001. Duas vitórias e uma derrota na fase grupos deram-lhe a oportunidade de avançar às meias-finais, onde defrontou – e derrotou – um Roger Federer que ainda não tinha encontrado o seu lugar no circuito.

Na final, Juan Carlos Ferrero venceu os dois primeiros sets (7-5 7-5), mas Hewitt esticou o encontro ao quinto set, como tantas vezes viria a fazer, com um duplo 6-2. Preso por arames, o jogador de Adelaide rapidamente viu o marcador em 1-3, mas arranjou forças para reagir, selar o embate com um 6-4 no derradeiro parcial e sagrar-se o melhor dos melhores daquela época.

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“Cada um dos encontros foi uma batalha, não houve um que tivesse sido fácil. Tive dois embates de três horas, um de quatro, não sei como é que consegui sair por cima, tendo em conta a forma como me senti nas últimas semanas. Não faço ideia. Quando venci hoje, só senti alívio por poder descansar as pernas e ir de férias”.


3R Australian Open 2005 vs. Juan Ignacio Chela

A irreverência e prepotência de Hewitt, cimentado pelo boné virado ao contrário e pelos sonoros c’mons lançados na cara dos adversários, não foram bem recebidos por todos os que compunham o circuito. O episódio vivido durante a terceira ronda do Open da Austrália com Juan Ignacio Chela é a prova clara disso. Com o encontro a deitar fagulhas de tão incendiado que estava, o argentino aproveitou uma das trocas de lado, no quarto set, para cuspir na direção do seu oponente. Chela negou que o tivesse feito, mas acabou por pedir desculpa e pagar uma multa de 2600 dólares.

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Final Brisbane 2014 vs. Roger Federer

Hewitt venceu sete dos nove primeiros encontros que disputou com Roger Federer, entre 1999 e 2003, mas daí para a frente foi o suíço quem dominou claramente o frente-a-frente. Em 2014, em Sidney, Hewitt voltou aos velhos hábitos, ao derrotar o helvético em três partidas antes de pegar no primeiro troféu desde 2010. O título 29 de um palmarés que acabaria por receber mais um troféu alguns meses depois, em Newport.

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“Passaram alguns anos desde que o derrotei [Halle, 2010], hoje estava pronto para o desafio. Não foi um torneio fácil de vencer. Não era um dos quatro cabeças-de-série, por isso tinha de ganhar todos os cinco encontros”. Foi precisamente o que fez.


Final US Open 2001 vs. Pete Sampras

Tendo surgido numa altura em que dois dos maiores nomes da história da modalidade faziam do circuito a sua casa – Andre Agassi e Pete Sampras – Hewitt tinha duas hipótese: guardar-lhes respeito ou desafiá-los descaradamente. Optou pela segunda e a recompensa surgiu logo em 2001, em pleno Arthur Ashe Stadium. Na final do US Open, despachou Sampras em três partidas (7-6, 6-1, 6-1) para erguer o primeiro Grand troféu e, sem cerimónias, alcançar o topo do ranking.

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“O Pete serviu ridiculamente bem até à final e lembro-me de me sentar aqui [na conferência de imprensa] e todos me dizerem ‘não vais conseguir vencê-lo, não vais conseguir quebrar-lhe o serviço’. Quebrei-o no primeiro jogo… […] Senti-me invencível, como se não fosse perder nenhuma bola”.


Final Wimbledon 2002 vs. David Nalbandian

“Pouco importa se não vencer outro torneio”. Estava tudo dito. Hewitt despachou David Nalbandian na final do torneio que mais ambicionava vencer, por 6-1, 6-3, 6-2, e só deu conta do tamanho do feito que tinha alcançado quando pensou que dentro de 50 anos poderia assistir aos encontros na tribuna reservada exclusivamente aos membros do All England Club, envergando a muito singular e desejada gravata verde e roxa.

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“Não há nada melhor do que vencer Wimbledon. Vou aproveitar este momento o mais que puder. Ser membro do All England Club é o máximo. Pensar que, quando tiver 65 anos me posso sentar na área reservada aos membros, é uma sensação muito especial”.